Transtorno da Personalidade Borderline
Atenção!
Ao ler sobre transtornos de personalidade, é importante ter em mente que nenhum diagnóstico deve ser visto como um “rótulo”. Cada indivíduo é único e não se resume às características do transtorno mental que possui, de forma que pessoas com o mesmo diagnóstico são muito diferentes uma da outra. Além disso o número e gravidade dos sintomas varia bastante de caso para caso.
Todo transtorno de personalidade deve levar em conta que os sintomas estão presentes em vários contextos, são inflexíveis, persistem desde (no mínimo) o início da vida adulta e trazem alguma forma de sofrimento e prejuízo para o indivíduo e para terceiros.
O que é?
Também conhecido como transtorno da personalidade emocionalmente instável, personalidade limítrofe e erroneamente nomeado como “bipolaridade”. O transtorno de personalidade borderline é caracterizado pela instabilidade e impulsividade, as quais ocorrem na auto imagem, nos relacionamentos interpessoais e no humor do cotidiano. Ocorre em até 6% da população.
Quais são os sintomas?
- Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginário. São pessoas extremamente sensíveis à rejeição, podendo ter crises de raiva, humor depressivo, realizar automutilação ou mesmo ameaçar/tentar suicídio quando se sentem abandonadas.
- Relacionamentos instáveis e intensos. Pode ocorrer uma alternância entre idealização e desvalorização das outras pessoas. Podem se envolver emocionalmente de forma muito rápida e intensa, contar detalhes íntimos sobre si em pouco tempo e se sentir abandonado ou traído com facilidade.
- Perturbação da autoimagem. Podendo incluir dificuldade de definir uma carreira de estudos ou profissional, dúvidas sobre a própria identidade sexual, dificuldade de assumir responsabilidades e papeis adultos. Frequentemente são descritas como pessoas “com múltiplas personalidades”.
- Impulsividade. Ou seja, agir sem pensar nas consequências, podendo fazer gastos excessivos e se endividar, ser promíscuo e ter relações sexuais desprotegidas, usar drogas ou beber em excesso, realizar direção perigosa ou ter compulsão alimentar.
- Automutilação. Podendo se cortar nos antebraços, abdome, coxas ou em outras localidades. Também podem se queixar, desferir socos em si mesmo, bater com a cabeça na parede, arrancar os próprios cabelos, etc. Tais atos são diferentes da tentativa de suicídio, pois tem a intenção de aliviar temporariamente o sofrimento emocional.
- Ideação suicida ou tentativas de suicídio recorrentes. Geralmente as tentativas de suicídio são feitas no calor do momento, após alguma briga ou frustração. Apesar de muitas tentativas serem de baixa letalidade, não devemos cair na armadilha de subestimar o risco de suicídio, o qual ocorre em até 10% das pessoas com este diagnóstico.
- Instabilidade emocional. São pessoas extremamente sensíveis às circunstâncias, podendo vivenciar alegria, ansiedade, medo, pânico, tristeza, etc de forma muito rápida e intensa. É frequente a descrição que são pessoas “de lua” ou que “cada hora está de um jeito”.
- Sentimentos crônicos de vazio. Se sentem entediados com facilidade ou podem se queixar de “ter depressão desde pequeno”.
- Crises de raiva. Normalmente desencadeadas por pequenas frustrações, as crises de raiva podem levar a pessoa a se isolar, se machucar, ou então a gritar, xingar, quebrar objetos ou agredir fisicamente aos outros. Frequentemente são descrias como pessoas de “pavio curto”, de “personalidade forte”, “barraqueiras” ou que “não levam desaforo para casa”.
Como a doença surge e evolui?
As características surgem ao longo da infância e adolescência, e estação presentes no máximo até o início da vida adulta. Acredita-se que o transtorno surja devido a interação entre risco genético e fatores ambientais, como por exemplo abuso infantil. É comum o desenvolvimento de outros transtornos mentais, como depressão, transtorno de ansiedade, bulimia nervosa e dependência química.
A gravidade e evolução do transtorno é extremamente variável de uma pessoa para outra. Pode ocorrer melhora ao ponto do diagnóstico não ser mais pertinente, especialmente após os 30 anos de idade. Entretanto, parte dos acometidos irá cometer suicídio.
Como é o tratamento?
A psicoterapia é considerada o principal tratamento para o transtorno de personalidade borderline. Nela será trabalhada a auto imagem, capacidade de enxergar a si mesmo e aos outros como um todo (e não como totalmente bom ou ruim), manejar a impulsividade, expressar suas emoções de forma não danosa, dentre vários outros ganhos.
Não há medicações específicas para o tratamento deste transtorno, mas diversos tipos de medicações podem ser indicadas para o tratamento de outros transtornos mentais e de sintomas específicos, como agressividade, impulsividade, crises de raiva e mudanças abruptas de humor. As principais medicações utilizadas incluem estabilizadores de humor e antipsicóticos.
Quer saber mais?
Busque “personalidade borderline” e “psiqweb” ou “msdmanuals” ou acesse os seguintes links:
http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerClassificacoes&idZClassificacoes=95
Leia os livros “Mentes que amam demais: o jeito borderline de ser”, de Ana Beatriz Barbosa Silva, e “Pare de pisar em ovos: como agir quando alguém que você ama tem transtorno de personalidade borderline”, de Paul T. Manson.
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Referências
- APA. Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª Edição. Porto Alegre: Artmed 2014.
- SADOCK, B.J. Compêndio de psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 2016.
- SADOCK B.J. et al. Kaplan & Sadock’s Comprehensive Textbook of Psychiatry. 10th Edition. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2017.
- DYNAMED. Overview of Cluster B Personality Disorders. 2020
- SKODOL, A. Borderline personality disorder: Epidemiology, pathogesis, clinical features, course, assessment, and diagnosis. UpToDate, 2020.
- SKODOL, A. Approach to treating patients with borderline personality disorder. UpToDate, 2020.